O ORACULO
DO
PASSADO, DO PRESENTE E DO FUTURO
OU O
Verdadeiro modo de aprender no passado a prevenir o presente, e a adivinhar o futuro
POR
BENTO SERRANO
ASTROLOGO DA SERRA DA ESTRELLA,
Onde reside ha perto de trinta annos, sendo a sua habitação uma estreita gruta que lhe serve de gabinete dos seus assiduos estudos astronomicos
Parte primeira—O ORACULO DA NOITE
Parte Segunda—O ORACULO DAS SALAS
Parte Terceira—O ORACULO DOS SEGREDOS
Parte Quarta—O ORACULO DAS FLORES
Parte Quinta—O ORACULO DAS SINAS
Parte Sexta—O ORACULO DA MAGICA
Parte Setima—O ORACULO DOS ASTROS
PORTO
LIVRARIA PORTUGUEZA—EDITORA
55, Largo dos Loyos, 56
1883
PARTE TERCEIRA
O ORACULO DOS SEGREDOS
OU
Collecção de muitos segredos uteis a todas as pessoas, e para a cura radical de muitas molestias conhecidas e desconhecidas
PORTO
LIVRARIA PORTUGUEZA—EDITORA
55, Largo dos Loyos, 56
1883
Porto: 1883—Imprensa Commercial—Lavadouros, 16.
Deita-se um homem estendido no chão, depois ponham-se dois homens aos pés e outros dois á cabeceira. Feito isto digam as palavras seguintes, principiando por um e acabando por outros:
1.º homem—Aqui cheira a corpo morto.
2.º—Pezado como um chumbo.
3.º—Leve como uma penna.
4.º—Levanta-te na hora de Deus.
No fim de ditas as palavras acima mencionadas, apontae-lhe com os dedos, que elle logo sobe ao ar, tal qual como um passaro; no fim de 30 minutos, cáe ao chão sem lhe acontecer mal algum.
Este segredo foi descoberto por Lucifer, o principe do Inferno.{4}
A qualquer hora da noute, quando observarem que a mulher está dormindo e sonhando, põe-se-lhe devagarinho uma mão sobre o coração, que d'essa maneira conhecem logo se é sonho; se o fôr ella por sua propria bocca vos começará a descobrir tudo o que fôr de verdade, e o homem vae observando o que ella lhe diz e vae tirando a mão de pouco a pouco por que esta operação não póde durar mais que 10 minutos, para não acontecer que a mulher acorde e observe o que se está fazendo.
Sendo assim tudo descobrirão, e ella nada fica sabendo do que disse. Depois de feito isto devem guardar segredo para evitar questões.
Logo que uma pessoa dê qualquer cortadella e queira vêr-se sã em 8 horas, botem-lhe em cima vinagre ou ourina. Este remedio é approvado, assim o tenho experimentado e sempre com bom resultado.{5}
Se alguns dos meus leitores tiverem dores de cabeça e se em pouco tempo as quizerem alliviar façam o remedio seguinte: uma cabeça de alhos, tirar as cascas aos dentes, botal-os em um almofariz e moêl-os bem moídos, pegar em um bocadinho de massa e esfregar a testa e fontes bem esfregadas que, depois, em pouco tempo passará a dita dôr.
Se no fim da esfregação o paciente se poder deitar melhor será que depois de se levantar nada ha de sentir.
Para tirar a agua do vinho, se fará uma vazilha de pau de hera, lançando o vinho n'ella; se tiver agua, todo o vinho se irá coando, e ficará só a agua na mesma vazilha; e se não tiver agua ficará a vazilha escorrida de todo o vinho.{6}
Quebre-se uma noz em duas, de modo que fiquem os miolos inteiros; estes mettidos sem os quebrar na ponta de uma verga de arame, que tenha uma vara que seja grossa, pondo o lume no miolo das nozes, tendo a outra ponta de arame na mão, farão tanto lume como uma tocha, sem se vêr mais que o mesmo lume.
Secretamente partiremos duas cordas de viola uma grossa outra delgada em bocadinhos, se fôr assado sendo gallinha se lhe metterão pela abertura; sendo outra cousa se lhe dará um golpe em que se lhe mettem; sendo cozido se botarão na panella ao tirar do lume e assim virão pegados na carne com a quentura que em si levam, e com a fresquidão do ar que lhes dá se encolherão e estenderão como bichos, e quem estiver comendo fica enganado.{7}
Saindo eu de Alcoy para S. Thiago, á porta de uma aldeia, encontrei tres peregrinos, com os quaes acompanhei até ao meu destino, e segundo o que n'elles observei deviam ser virtuosos, e aos mesmos vi que levavam pendurado no cinto, um pequeno raminho de bella-luz. Perguntei-lhe o que aquillo representava, e tive de resposta: Pois vós ainda não sabeis o segredo? Tiraram do seio cada um sua mancheia de artemija, dizendo-me que com aquillo pouco se sentia a calma e o cansaço do caminho. D'ahi por diante me aproveitei d'isso e achei ser verdade, o segredo que me ensinaram.
Tomem quatro folhas de herva santa, um ramo de arreçã com flor, outro de herva sedagoza partes iguaes frigam-se em azeite simples, misture-se tres onças de cêra amarella, untando tres dias successivos não sómente os mata, mas tambem a pessoa que com isto se untar nunca mais os criará. E para evitar pulgas bote-se pela casa mentastros e folhas de amieiro, estas hervas tem virtude para as matar e não criarem{8} outras. E qualquer d'ellas fará o mesmo effeito, botando com abundancia pela casa.
Se quizerem fazer com que os assistentes, fiquem admirados sem saberem de que modo veio essa letra, secretamente, com a propria ourina e a ponta de um pausinho, escrevem as letras que quizerem que appareçam, e depois se deixará seccar, e se mostra a quem quizer vêr a mão limpa; queimem um papel tendo escripto as mesmas letras (isto com tinta, preta) que se escreveram na mão, e com o mesmo papel queimado, se esfregará a parte onde se fizeram as letras com a ourina, que conforme foram feitas assim saírão pintadas de preto, por isso quem não souber o segredo se admirará.
Provavel remedio para quem tem crianças com essa doença. Se fôr tosse lancem-lhe uma esponja ao pescoço, que logo lhes abrandará. E se forem lombrigas, botem uma pequena mancheia de farinha centeia, em{9} uma pouca de agua, que fique tingida como sôro de leite, assim dada a beber em jejum, todas as manhãs, mata as lombrigas.
Tomarão folhas de azinheiro, e cascas de pepino sêccas, depois de misturado em partes iguaes, bem pizado e espremido, botar-se-ha o sumo em meio quartilho de agua-ardente camphorada, e bem mechida, se porá ao orvalho da noute, por espaço de 8 dias. Com esta mistura lavarão a cabeça pelo menos de tres em tres annos, que o cabello não cahirá.
Tomem o malvaisco, e untem bem as mãos e rosto com o sumo d'esta planta, depois untem-se com azeite que tenha servido já nas candeias, com que se allumiam, que indo bem untado podem fazer o serviço sem receio, que ellas não farão mal algum. E se por{10} acaso te picar alguma vespa, unta bem a parte com azeite liquido, que brevemente está são.
Aquella parte onde quizermos que não entrem n'ella formigas, cercaremos com um risco de carvão grosso, ou com cinza, ou com salmoura, ou com sal molhado, que não passarão este limite para dentro. E se pozerem estas cousas todas misturadas melhor será.
E para mosquitos não virem de noute á cama dependurarão á cabeceira uns poucos de pregos, que não chegarão alli. E para persevejos, tome-se uma pouca de palha estrangeira, cozida n'um tacho, e botem-lhe uma quarta de pedra hume, e em fervendo tudo depois da agua estar fria lavem a barra da cama; ou a qualidade que lhe pertença com a dita agua. Na cama, ou casa onde se criarem persevejos, tomando um pimento em um fogareiro que se queime, posto debaixo da cama todos os persevejos que houver onde chegar o fumo do brazeiro morrerão.{11}
Para se conhecer a doença da sarna, basta vêr entre os dedos das mãos umas bolhinhas, que estão quasi constantemente em comichões; mas com este segredo, cura-se facilmente, dentro em pouco tempo: basta deitar sobre a parte doente, umas pingas de oleo de petroleo. Mas não se deve esfregar.
Deixe-se o oleo na parte durante uma hora. Continua-se no dia seguinte e mesmo nos outros emquanto não sarar. Este remedio que está ao alcance de todos, é muito approvado, e seu emprego tem sido adoptado em immensos casos.
Um outro consiste em lavar com licor concentrado de alcatrão, por que produz muito bom effeito.
Um verdadeiro serviço, que com este segredo presto aos viajantes, principalmente aos embarcadiços. Dou-lhes a saber este segredo que de tanto lhe póde servir: logo que o mal se começa a sentir, e quando a cabeça anda á roda e o estomago enfraquecido deve-se tomar 2 até 5 perolas de chloroformio, que o{12} mal desapparece logo. E não havendo as ditas perolas, tomarão perolas de ether, que fazem o mesmo effeito. Tanto umas, como as outras vendem-se em quasi todas as pharmacias, e o viajante se munirá d'ellas antes de embarcar, porque o enjôo é um mal que causa sempre bem á creatura que vae no mar.
Tenho observado já muitas vezes que este segredo dá sempre bom resultado, n'esta doença tão massadora, e custosa de soffrer. Para essa cura tomem: essencia de therebentina, que dá bom resultado; com um gosto detestavel é impossivel o poder tomal-a pura, ou em mistura. Mas tomae em fórma de perolas. As perolas de therebentina tomam-se de 6 até 12 na occasião das comidas. Dentro em pouco tempo, os catarrhos, mesmo os antigos, melhoram-se e curam-se. Por muito que explique, nunca são muitas as explicações, dignas do elogio d'este segredo.
Antes de outra cousa se note, que o gado vaccum quanto mais está depois de morto mais peza, pelo{13} contrario o gado miudo, assim tambem para dar o seu a seu dono assim no pezo da carne, como de outro qualquer hade-se pôr primeiro o pezo, depois a carne, ou o que fôr, por que se a carne se põe em a mesma parte, requer muita força de pezo para outra parte para se endireitar.
E assim tambem nas medidas de vara, ou covado para se medir seda, ou linho, ou panno de côr, se ha de medir sobre a meza, ou caixa, não nas mãos, porque estira, e se faz mais copia de varas, ou covados, do que são.
Quanto á medida do vinho, ou azeite que se mede em armazens e lojas baixas leva mais que nas altas, a razão é por que toda a cousa se pretende igualar, com o globo da terra, assim nas partes baixas faz o azeite, ou vinho, cobril-o para cima, nas altas não; tanto é assim, que para prova d'isto ponham um vaso que leve meia canada, ou mais sobre uma meza, este cheio de vinho ou agua, ou azeite, da meza posto no chão, lhe podem botar um vintém em moedas, moeda mansamente, todas levará sem derramar gotta pelo motivo que temos dito.
Para persevejos, tomem-se umas poucas de brazas em um têsto, bota-se-lhe dois ou trez pimentos vermelhos;{14} posto o têsto no meio da casa onde os houver, ou morrerão ou se ausentarão.
Para piolhos, basta o summo da erva santa, untar com ellas trez noutes a parte onde se elles criarem, que desapparecerão.
E para pulgas, na casa onde andarem se botará uma pouca de hortelã pela casa, logo morrerão ou se ausentarão.
Devem ser as azeitonas mais sobre o verde, que sobre o maduro, é preciso serem colhidas á mão da oliveira, nem varejadas, nem encorrilhadas, deitadas na vasilha, se lhe botará agua simples, de modo que fiquem todas cobertas; aos tres dias tira-se-lhe essa agua e deita-se-lhe outra; assim continuando todos os tres dias na outra agua, se lhe botará pouco sal, ouregãos, cascas de limão sem amargo algum, porque o amargo corrompe; ao tirar d'ellas será com colher, não com a mão, e assim se sustentarão por largo tempo.{15}
A primeira propriedade que tem, é ser a gema fresca e substancial, a clara cálida, e reimosa; cura humores viscosos.
O ovo é neutral, porque se o comer uma pessoa estando colerica e agastada converte-se-lhe em outra tanta cólera; se a pessoa está alegre, converte-se em outra tanta alegria; e tanto é assim, que escreve um auctor grave, que se um furioso continuar dois mezes pela manhã, e á noite, comendo duas gemas de ovos crus, tornará ao seu juizo; a razão é porque o furioso é tão contente de si que imagina que tudo é seu.
Para mais, o ovo que é cozido, de modo que fique duro ou forte, é cálido; em cru é frio, tão frio, que bebendo-o pela manhã, no verão, vai contra a calma, e contra a enfermidade do figado.
Tenho observado que para fazer a agua do mar dôce, a pontos de se poder beber, farão uma vasilha de cêra branca bem tapada, e a metterão no mar, que{16} fique toda coberta, e a que fôr entrando para dentro da vasilha, perde o sal e fica dôce, e o mesmo acontece se metterem uma vasilha nova de barro, mas que tenha a boca bem tapada; com a mesma será, porque a agua tanto dá que de pouco em pouco, lá vae entrando para a vasilha até estar cheia.
Contra esta terrivel doença, tenho um segredo que vou dizer aos meus leitores: ás pessoas que depois de serem apoquentadas por este mal, fazem remedios que de nada valem, por isso, se quizerem vêr esse mal fóra do corpo, existe um meio de o fazer que é approvado: é o carvão do doutor Belloc; tomar cada dia de tres a seis colheres de sôpa d'este carvão, que em pouco tempo estarão livres do mal que os apoquentava.
Ao principio, parece impossivel que o carvão possa curar a diarrhea, mas por muitos está experimentado, e sempre com bom effeito, por isso vos recommendo este segredo.{17}
O primeiro planeta chamado Saturno, é de sua natureza frio, secco, melancolico, terreno; por isso os Astronomos o chamam infortuna maior, porque a qualidade frio, e sêcco, é contraria á criação de todas as cousas, supposto que seja por esta razão inimigo da natureza humana emquanto terreno; acharam os philosophos o primeiro mez de nossos concebimentos ser do dominio de Saturno, o qual não prejudica o geral, porque ainda a materia não tem vida a qual, nos possa empecer.
O segundo mez é dedicado a Jupiter, o qual por ser de compleição sanguinea e cria quente e humido, o qual sendo bom, e que convém á creacão das cousas, chamaram-lhe os Astronomos fortuna maior; assim em seu mez a materia se une, incorpora, e orna de espiritos vitaes.
O terceiro mez é dedicado a Marte, que é de compleição colerica, quente, e sêcco; porque como a quentura é conveniente á creação das cousas, e por outra parte a seccura a impedia, chamaram-lhe os Astronomos infortuna; assim no terceiro mez a mãe sempre padece achaques porque a creatura os padece.
O quarto mez é dedicado ao Sol, que supposto que seja cálido, e sêcco, comtudo é luminaria maior; emquanto luminaria, cria, augmenta e corrobora.
O quinto mez é dedicado a Venus, que supposto{18} seja de per si humida, fleumatica, e fria, tem de certa participação de quentura, com a qual favorece a humidade; por isso os Astronomos a chamaram fortuna menor; porque ainda que não seja tão favoravel como Jupiter, é comtudo ajudadoura da creação de todas as cousas, por isso em seu mez, a mãe e a creança estão livres de achaques.
O sexto mez é dedicado a Mercurio, que é planeta natural, participante de todas as compleições, pelo qual em seu mez supposto que a creatura está perfeita, capaz de vida, comtudo se n'este mez nascer, morrerá logo, porque como Mercurio seja neutral acommoda-se ao primeiro principio que é Saturno assim—mata.
O septimo mez é dedicado á Lua, que supposto que seja planeta frio, humido, fleumatico, e aquatico, comtudo emquanto luminaria é conveniente á creação de todas as cousas, assim vemos que os nascidos de sete mezes vivem.
O oitavo mez torna a dominar Saturno o qual como temos dito é contrario á natureza humana; assim não temos visto até hoje que o nascido, até ao oitavo mez resista.
Ao nono mez torna a entrar Jupiter, o qual como temos dito é bom planeta, em geral todos os que nascem n'este mez vivem.{19}
O Sol divide os outros seis planetas em duas partes: tres acima, tres abaixo; os tres de cima chamam-se tardos, por serem mais vagarosos em seu movimento, assim tambem são chamados masculinos. Os tres de baixo são chamados femeninos velozes, porque em seu movimento são mais ligeiros, supposto que Mercurio, que está abaixo por ser masculino, planeta natural e applicar-se com quem se acha, por ficar entre a Lua, e Venus que são planetas femeninos, se conte tambem femenino como elles; assim pois a Lua, Mercurio, Venus, que estão abaixo do Sol, por serem velozes, representam os tres annos primeiros de nossa vida, tambem Marte, Jupiter e Saturno, por serem masculinos-tardos, e estarem acima do Sol, representam o resto da nossa vida, pelo que quem quizer saber a estatura, que qualquer creança virá a ter depois de grande, na edade de tres annos perfeitos, tomem-lhe a medida com uma fita estando a creança com o corpo direito, o comprimento da fita que tiver da ponta da cabeça, até aos pés dobra-se, o que se achar, que faz a dita fita dobrada, será a estatura que a tal creança virá a ter depois de grande.{20}
Peguem na estopa, deitem-lhe um pouco de espirito de vinho, e ao mesmo tempo deitem-lhe o fogo, que começa a arder e acabando-se o espirito se apagará, e a estopa ficará sem se queimar. Mas devem ter cautella antes do espirito arder todo, por causa de se não inflammar á estopa, que é mais verdadeiro.
Tomarão folhas de espirradeira, cascas de castanhas, tudo muito queimado e desfeito em pó lhe juntarão pimentos que estivessem de calda de vinagre, isto tudo em vinho branco: quem o beber não poderá estar calado.{21}
Se os leitores se quizerem rir e entreter, os que estiverem presentes farão o segredo seguinte: Agarrarão um rato vivo, e secretamente (para ninguem lhes vêr) deitarão agua-raz sobre o lombo e por todo esse bixo menos nas pernas e cabeça; depois apparecerão diante de quem quizerem e pondo o rato no chão agarrado pelo rabo, se lhe lançará o fogo com um lume e o deixarão que começará a correr todo cheio de lume, e quem não souber este segredo se admirará por vêr uma pouca de lavareda a fugir de umas partes para outras.
Depois de a agua-raz se gastar, acabará tambem a vida do rato.
Todos os que na medicina tem escripto, fazem mais duvida em saber conhecer doenças, do que em applicar os remedios, e a razão é que mal se póde applicar medicamento salutiphero á doença que não é conhecida. É porque nem todos os medicos, sabem este grande fundamento. Dos mesmos authores de Villa-Nova{22} tiramos a receita seguinte, que é tão boa como n'ella se verá, a qual é a seguinte:
A ourina de côr rosada demonstra saude, estado do corpo são, e boa digestão.
Se a ourina fôr menos rosada, supposto que demonstre saude, com tudo isto não é tão perfeito como se propriamente fôra rosada.
A ourina de côr de cidra, quando o circulo d'ella é da mesma côr, é boa. Tambem o é, ainda que não seja de todo côr de cidra.
A ourina de côr vermelha significa febre simples que dura 24 horas; salvo se o doente cuja tal ourina fôr ourinar a miudo que é signal de febre continuada.
A ourina acêsa de côr de sangue demonstra sangue sobejo; logo é bom sangrar-se, salvo se estiver a lua em signo Feminis, que domina nos braços, pois será prejudicial a sangria.
A ourina de côr verde quando sahe depois de vermelha, demonstra inflammação; é perigosa e quasi mortal.
A ourina de côr vermelha escura demonstra declinação na doença.
A ourina vermelha misturada com algum pouco de negro, demonstra esfalfamento e outros vicios do figado.
A ourina de côr amarella, demonstra fraqueza do estomago, impedimento de segunda indigestão.
A ourina branca de côr da agua da fonte, demonstra aos sãos, ter humores crus; nas febres agudas é signal de morte.
A ourina côr de leite com a substancia espessa, se fôr de mulher não é tão perigosa como a do homem pela indisposição da madre. E se acontecer em febres agudas é signal de morte.{23}
A ourina de côr de leite, escura em cima e clara debaixo da região do meio, demonstra hydropesia.
A ourina no hydropico, rosada, ou meio rosada, é signal de morte.
A ourina de côr azulada demonstra multidão de humores corruptos no fleugmatico e hydropico.
A ourina negra póde acontecer algumas vezes que a natureza é gastada ao doente, o calor natural n'este caso é mortal, em outra maneira póde acontecer expulsão de materia venenosa que sahe pelas veias ourinaes.
A ourina que traz luz como lanterna, denota indisposição no baço, boa disposição no que tiver quartans.
A ourina côr de açafrão, quando está espessa, meia negra, que tem mau cheiro e alguma espuma, demonstra etericia.
A ourina rosada, ou meio rosada, que na região inferior traz umas resoluções redondas, brancas em cima, e um tanto grossas, é signal de febre hectica.
A ourina clara no fundo do ourinol até ao meio d'ella, e a de cima mais espessa, demonstra dôr e inchação nos peitos.
A ourina escumosa clara, quasi meio vermelha, demonstra maior dôr da parte direita, do que da esquerda. Porém se a ourina fôr escumosa branca, demonstra maior dôr na parte esquerda que na direita.
Se o circulo da ourina não bolindo com ella, parecer que bole de si mesmo, demonstra decurso de fleugma, n'outros humores da cabeça pelo pescoço, n'outros nos membros.
A ourina delgada, amarella-clara, demonstra humor fleugmatico e grosso.
A ourina espessa de côr de chumbo, negra da região do meio, demonstra paralysia.{24}
A ourina espessa de côr de leite, pouca em quantidade, grossas com algumas espumas na parte inferior do ourinol demonstra dôr de pedra, se fôr sem espumas espessas de côr de leite podre demonstra ventosidade.
A ourina espessa de côr de leite, em muita quantidade, demonstra gota nas partes inferiores.
A ourina amarella na parte inferior, demonstra nos homens dôr de rins, e nas mulheres dôr de madre.
Na ourina em que apparecerem alguns pedaços de leite, se fôr pouco turbada, demonstra rotura de veia junto aos rins da bexiga.
A ourina que no fundo do ourinol mostra sangue podre, demonstra podridão dos rins e bexiga; se juntamente toda a ourina estiver tal, demonstra podridão de todo o corpo.
A ourina onde se veem pedaços estreitos-compridos, demonstra desolamento de bexiga.
A ourina que sae de vagar, cheia de argueiros como faz o sol, demonstra pedra nos rins.
A ourina branca sem febre, demonstra nos homens dôr de rins, nas mulheres estarem prenhas.
A ourina de mulher prenha de um mez até trez deve ser mui clara, branca; se fôr de quatro mezes ha de ser parda, branca e grossa no fundo.
A ourina espumosa nas mulheres demonstra ventosidade no estomago, ardor no ventre até á garganta.
E devem entender que as significações das aguas, são mais válidas tomadas, vistas logo, do que depois que arrefecem, porque mudam a substancia, mórmente no tempo do inverno, que com o frio se colham.{25}
A genebra tem muitas virtudes, mas especialmente para quem se costuma a agoniar do estomago, e nas indigestões. Logo que qualquer pessoa se ache incommodada com qualquer d'estas doenças, tomem meio quarteirão de genebra, mas para melhor effeito será da hollandeza, porque é mais approvada, e com isso logo ficarão livres d'essa afflicção, porque além de vos parecer que não tiram resultado, vos affianço que é engano; porque eu que vos descubro este segredo, em diversas occasiões tenho feito uso d'essa bebida e sempre com bom resultado, segredo este que nunca me esquecerá porque me tem valido á minha vida, e as suas virtudes, para todos são proveitosas, por isso todos os elogios são poucos para remedio tão efficaz.
Estou informado de um segredo muito prestavel, para quem padece dôres de cabeça que é remedio que dou por approvado e muito economico.
Em um testo botarão umas poucas de brasas acezas, e depois pegarão em umas poucas de folhas de{26} alecrim da India, e botarão as folhas em cima das brasas; depois de ellas botarem bastante fumo lhes deitarão uma onça de assucar; põe-se a cabeça do paciente a tomar aquelle fumo, isto é dous palmos acima das brasas para evitar da muita quentura, que fazendo isto oito noutes ao deitar da cama, se acharão melhor, porque assim como eu fiz e achei bom resultado, tambem me parece que o meu semelhante que padecer da mesma doença tambem o achará se isto fizer como explico.
Pegarão em uma duzia de laranjas maduras, darão em cada uma tres ou quatro golpes como quem retalha azeitonas, assim as botarão pelo batoque da pipa, botal-as-hão em pedaços, e d'ahi por oito dias botarão uma canada d'agua-ardente fina, e depois d'isto feito em passando 15 dias vão proval-o que estará bom vinho; mas advirto que a pipa deverá estar em sitio fresco, porque os vinhos para se conservarem não querem lugares abafados.{27}
Tira-se um tampo á vasilha e mette-se dentro um testo cheio de brasas e depois bota-se-lhe nas brasas um vintem de cravo da India, dez reis de canella e um bocado de pês, abafa-se a vasilha com o tampo para que este fumo se entranhe na madeira, e sair-lhe-ha o mau cheiro, e a vasilha ficará cheirando sempre bem.
E para que o vinho que se recolher n'estas vasilhas seja bom de cheiro, ao tempo que quizerem recolher o vinho coserão uma pouca de palha de cevada em uma caldeira de agoa, e assim fervendo se bota sómente a agoa na vasilha, enxuga-se-lhe, tapa-se com o batoque para que tome esse soadouro, que depois o vinho que n'essa vasilha se recolher terá bom cheiro.
Faz-se um molhinho de ortelã, que peze uma quarta, atado com um cordel mette-se pela boca da pipa que tiver o vinagre de modo que a ortelã fique mettida dentro no vinagre ficando o cordel de fóra, e{28} d'ahi a sete ou oito dias tirem-lhe a ortelã e ficará o vinagre fortissimo.
Se ainda não tiver a fortaleza que queriam, tornarão a fazer igual operação, que ao fim dos segundos oito dias estará mais forte.
Para as vellas de sebo não cheirarem a elle e parecerem de cêra e que durem mais, ao fazel-as se terá uma pouca de cal virgem bem peneirada, cada camada de sebo que se botar na fôrma se lhe botará duas mãos ou um punhado de cal accesa por toda a forma; as vellas que assim se fizerem parecerão de cêra, sem terem cheiro de sebo, e durarão muito mais porque a cal tem a virtude de lhe dar a côr como a de cêra, e conservar o sebo a arder sem se desfazer tão facilmente.
Este segredo vos vou descobrir, mas será bom que vos não seja preciso, porque o entendimento da creatura{29} bastará para o evitar. Porém se acontecer essa bebida a fazer-vos mal á cabeça será bom comer os boxes assados de uma ovelha, antes de comerem mais cousa alguma. Se quizerem antes de beber o vinho que elle lhe não faça mal comerão berças com vinagre, que assim não lhe fará mal, mas eu entendo que será bom não seja preciso estas cousas; e quando se beber o vinho não se bebe demasiado, para não arruinar a saude, um dos bens que o vivente tem n'esta vida. Se ha quem diga que bebem vinho porque não podem deixar de o fazer, porque é um vicio, ahi vae um segredo tambem para perder esse vicio: Metam duas enguias vivas dentro de uma canada de vinho, e tapem a vasilha e quando estiverem mortas tirem-as, e os que costumam tomar-se da pinga bebam d'este vinho que depois o aborrecerão completamente. Tambem serve para este effeito a bretonica feita em pó e bebida em vinho.
Secretamente arrancar-lhe-hão uma seda do rabo dobrada atal-a-hão entre o casco e os cabellos aonde chamam os machinhos, ficando mettida entre a seda e os machinhos um grão ou dous de cevada estando bem apertada, farão andar o cavallo que elle irá a mancar de um pé ou de uma mão, porque o grão de cevada causa-lhe incommodo nas juntas das pernas e o animal mancará porque o não póde deixar de fazer.{30} Depois d'este segredo assim feito, tirarão o grão da cevada que o cavallo tem, que ficará andando direito e causará admiração a quem o viu manco e em pouco tempo andar são.
Muitos costumam refinar a polvora com limão e outras cousas, mas em vez de a refinar quasi que a estragam; porque a prova d'isto, tenho visto fazer uso de polvora ordinaria; o melhor segredo para a refinar é, tanto de verão como de inverno, borrifal-a com agua-ardente muito fina, secando-a depois, que este espirito dá-lhe toda a força precisa para que ella produza bom effeito. Sei isto por a experimentar e tirar bom resultado.
Quando uma mulher parir, se quizerem saber o que a mesma mulher parirá no parto seguinte, pela criança que teve o podem conhecer; nada mais é preciso{31} do que vêr a corôa do nascido; se o redemoinho que trazemos de cabellos estiver bem no meio da cabeça, sendo um só redemoinho o parto que se seguir será macho, e sendo dous os redemoinhos, ou sendo um só e declinar para qualquer dos lados, o parto que se seguir será femea.
A ortemija é uma herva, que quem fizer um molhinho d'ella e a trouxer ao pescoço, junto ao coração, terá mais animo e maiores forças. E esta herva, moída e bem desfeita, deitada em um pouco de vinho e bebida, para a pessoa que estiver cançada dá-lhe logo muito mais forças por ser uma bebida muito mais substancial; qualquer caminhante que fizer uma jornada a levará tambem comsigo porque tem a virtude de se não cançar tanto e andar mais caminho, que essa virtude é um dos astros que a concede a esta herva, assim como tambem serve para espantar as moscas de qualquer casa, se a cozerem com leite de cabras, e depois de bem cozida untarão as paredes com esse leite, que ellas por causa do cheiro fugirão.{32}
A monstruosidade da natureza é de duas maneiras: uma d'ellas é aquella que se deixa logo vêr em nascendo a creatura, e a outra a que se descobre por tempo. A que se deixa logo vêr, é quando a creatura vem com mais ou menos abundancia de membros dos ordinarios, ou trazendo dos ordinarios, é algum d'elles semelhante ao de algum animal irracional; aquelles que trazem mais ou menos membros, de ordinario póde acontecer pela geração ser feita no bicorporeo, como são Geminis, Virgo, Sagitario, Piscis, assim tambem aos faltos de membros póde acontecer, por falta de materia, ou pelos signos moveis estarem infortunados, os quaes são: Aries, Cancer, Libra, Capricornio; os que trazem de algum animal tambem póde ser de duas maneiras ou de ajuntamento com o mesmo, ou no tempo do concebimento concorrer a mãe com o pensamento em algum animal.
Da monstruosidade que a natureza descobre com o tempo, se ha-de entender d'aquelles que são demasiadamente grandes do corpo, ou demasiadamente pequenos, fóra da proporção que adiante se dirá, ou tendo grande corpo tem disforme a cabeça de pequena, ou sendo pequeno tem a cabeça demasiadamente grande, ou sendo demasiadamente grande do corpo, demasiadamente pequeno com demasiada grossura, porque d'estas montruosidades se póde conhecer a differença que ha dos compostos em proporção perfeita; da natureza temos a seguinte:{33}
Tres cousas ha por onde isto se conhece; a primeira é, que a verdadeira proporção do homem tem na estatura sete palmos e meio de vicio da natureza, o mais que se dá são sete palmos a maior, o menor seis palmos, que a estatura do maior de nove palmos, e o menor de seis se tem por monstruosidade.
A segunda cousa por onde se conhece a verdadeira proporção é, que posto um compasso com uma ponta entre as sobrancelhas e outra na ponta do nariz tornando o compasso para baixo chegará á superficie da testa na raiz do cabello, com o mesmo compasso sem mais fechar nem abrir, posta uma ponta no nariz por baixo das sobrancelhas tornando-o a uma e outra parte chegará aos lagrimaes dos olhos de cada um d'elles, dando volta chegará a orelha, advertindo que os dous compassos dos lagrimaes ás orelhas, da ponta do nariz á ponta da barba, estes tres são eguaes, mas são maiores do que os outros de que temos tratado, que é de entre as sobrancelhas á raiz do cabello, á ponta do nariz d'estes ha-de haver em todo o corpo desde a raiz do cabello até aos pés vinte e sete compassos dando ao rosto tres, e ao demais corpo vinte e quatro; esta é a regra que guardam os imaginarios que é dar a um corpo quantidade de nove rostos, contando inclusivè o mesmo.
A terceira é: que em ausencia da mesma pessoa se lhe possa fazer todo o genero de vestidos, calçado, tão justo como se estivesse presente, o qual se fará d'esta maneira: vêr-se-ha uma luva, que a pessoa calce justa com uma fita se tomará a grossura do dedo polegar pela raiz do dito dedo, a qual medida dobrada fará o bocal da manga do casaco ou roupa, a medida do bocal da manga será dobrada, a medida do cabeção dobrado, faz a medida da cintura; a da cintura{34} dobrada em tres terços, um terço até ao comprimento de um quarto do casaco, o outro terço com uma mão atravessada da mesma luva, faz o comprimento da manga; o mesmo terço com a mesma mão atravez, faz o comprimento da calça, o ultimo terço faz todo o comprimento da bota, cujo pé será de um palmo da mesma luva, juntando-lhe mais o que houver do dito dedo polegar da luva, da junta do meio até á extremidade, isto do pé; dois terços dos ditos pés fazem capa até ao joelho, os mesmos dois terços, sendo mulher lhe faz a casaquinha e os tres terços lhe fazem a saia, os mesmos tres terços com mais tres palmos de luva lhe fazem manto e casaquinha, manga e corpinho, e o mesmo que acima temos dito. A pessoa que com estas medidas lhe fizerem a roupa que venha conforme e justo, poderá dizer que é conforme a proporção da natureza, sem que falte cousa alguma, sendo a proporção de sua estatura o que temos dito; resta pois que suas obras sejam taes, quaes convem para ser mais perfeito. Os que carecem d'esta composição lhes convem fazerem taes obras, que com a perfeição d'ellas fique satisfeito, á proporção do corpo.
O alecrim tem uma natureza que é quente, secco e cheiroso, e por isso fortalece todas as partes e membros de dentro e de fóra do corpo, alegra e fortalece{35} os sentidos, consome as humidades, frialdades, e todos os males contagiosos.
O alecrim não consente melancholias, tremores nem desmaios no coração, cujas raizes, ramos, cascas e flores d'essa excellente herva tem todas as virtudes, as quaes diremos com ajuda de Nosso Senhor Jesus Christo e proveito da humanidade.
Os olhinhos mais tenros do alecrim, comidos pela manhã, com pão e sal, fortalece a cabeça, conserva a vista clara, aguda e forte.
A flor e folhas da mesma herva feitas em pó e trazida no seio, afugenta os tres inimigos do corpo, que tanto affligem o coração, que são elles: as pulgas, piolhos e persevejos.
Os mesmos pós no seio do lado esquerdo, espantam a melancholia e ao coração fazem-lhe muita alegria.
As folhas da mesma herva bem mastigadas e postas sobre uma chaga fresca, a curam, e fecha maravilhosamente.
A flor da mesma, comida pela manhã com mel da mesma flor e um bocado de pão quente, faz muito bem á saude: nem deixa gerar sangue podre, nem o mal da gota; e se alguem tiver mal, essa herva lh'o tirará.
O alecrim serve para afugentar todo o animal venenoso, e o seu fumo serve contra todo o mal e pestes.
Os ramos do mesmo, tambem servem para depois de queimados e feitos em pó, fortalecer dentes e não lhe deixar criar bicho, nem constipações.
Toda a mulher que tenha uso de comer a flor do alecrim em jejum com pão de centeio, não padecerá mal da madre, porque lhe reprime os maus humores, gasta as humidades, e cura os achaques a todas as pessoas que assim usarem.{36}
A flor da mesma herva, mettida em qualquer sitio onde estiver roupa, não deixa entrar a traça na mesma, e dá-lhe muito bom cheiro.
Se lavarem o corpo com a agua, devem cozer muito bem o alecrim e se conservarão com boa saude.
As casas que são escuras e muito humidas, se as defumarem com alecrim a miudo, conservar-se-hão enxutas.
Um segredo para as quebraduras, já experimentado, são as alfarrobas verdes, pizadas e applicadas sobre as quebraduras, que as curam e soldam.
Se tiverem dôres nas juntas por causa de algum refriado e as lavarem com agua onde se cozesse alecrim, lhe tirará a dor.
No tempo da peste é muito proveitoso queimar alecrim pelas casas e nas ruas, por que afina o ar e faz fugir a peste.
Estas virtudes do alecrim, acabarei de ser tão extenso como pede este bem para a natureza e tudo deixarei dito da maneira seguinte:
Mel virgem de alecrim serve, tira nevoas dos olhos.
O summo do alecrim lançado nos ouvidos, tira a dôr.
O summo do mesmo tomado pelos narizes, tira o mau cheiro e sana todos os males que dentro d'elles estiver.
Um segredo provado e experimentado, a agoa do alecrim pôr-se ao sol, será para os olhos que tem belidas, cataratas, ou que estão ennevoados. Faz-se esta agua da maneira seguinte: um bom mólho de alecrim verde e colhido de fresco, põe-se dentro de um ourinol novo de vidro com as pontas para baixo, não devem chegar ao fundo, tapa-se com um panno de linho dobrado, e em cima d'este panno põe-se um bocado{37} de fermento que tome toda a boca do ourinol, e em cima do formento põe-se outro panno dobrado, e ata-se muito para que não saia bafo algum, põe-se o ourinol ao sol em tempo de calor 6 até 8 dias e d'alli se fará uma agua muito importante para os olhos. Quando essa agua estiver prompta, deve-se lançar em uma vazilha pequena e se terá ao sol e ao sereno outros tantos dias, que depois a agua que era branca, torna-se amarella e grossa, na qual se desfará um pouco de assucar de pedra e d'esta agua se lançarão nos olhos tres pingas, em cada um uma vez pela manhã, outras ao meio dia, e outra á noute, e por favor de Deus sararão.
Mulher que tiver pouco leite, não póde criar os filhos com as folhas e flores de alecrim, que lhe causará abundancia de leite bom, porque purifica o sangue.
O summo do alecrim misturado com assucar e tomado de manhã e ao deitar da cama faz bem ás afflicções do peito, ajuda a digestão e mitiga o apetite de comer.
A flor e as folhas em pós servem para a dôr do baço e do figado tomando-as em vinho e mel.
As folhas e flores da mesma herva fervidas em vinho tinto e bebido faz muito bem á dôr de tripas, tira a cobiça e a dezinteria.
Tambem servem os mesmos pós bebidos no mesmo vinho para quem padecer defluxo da ourina, por debilitação ou fraqueza, isto é approvado mas devem ser cozidas as folhas e flores em vinho do mais velho que fôr encontrado.
Para quem não tiver apetite de comer, tome pela manhã duas ou tres colheres de sopa, de vinho fervido com alecrim, que lhe abrirá a vontade de comer e lhe fará fortaleza no estomago.
Alguns auctores são de opinião, que a triaga é o{38} remedio da peçonha; mas o alecrim cozido lhe faz o mesmo effeito.
Finalmente o alecrim cozido em agua tem todas estas virtudes que se seguem tomando bastantes banhos d'essa agua, chama-se o banho da vida, porque tira a dôr das juntas e de todas as mais partes do corpo, é remedio para a canceira, para a suffocação do coração, dá alento e vigor á velhice, conserva a mocidade, fortalece os membros e aviva os sentidos.
Aqui deixo por isso escripto aos meus leitores, em estas poucas linhas todas as virtudes d'esta planta chamada alecrim, que tão bom proveito tenho tirado d'ella e estou por certo que quem d'ella fizer uso como eu o tirará e se conservará limpo, de tantos achaques que affligem o corpo humano.
A azia, além de ser uma molestia pouco impertinente quando ataca a creatura causa-lhe um pouco de desarranjo na garganta, e é o que basta para nos incommodar, e como não ha quem goste de incommodos, temos um segredo pelo qual em um instante fiquemos alliviados da garganta, é segredo economico, barato, pois se algum de vós tiver azia é só pegar em uma cebolla: tem poder para a fazer sahir. Se houver quem não goste d'este objecto dou-lhe tambem por approvado:{39} comerão amendoas amargosas que tambem ficam livres d'esse mal.
Assim tenho feito sempre e encontrei bom resultado, por isso d'estes dois segredos o que primeiro me apparece, é d'esse que eu faço uso.
Muitos homens ficam pequenos de corpo e de poucas forças, porque as mães e amas lhes tiram os braços de fóra antes do tempo, e assim como são tenros, bolindo com os braços se relaxam os membros e assim ficam mais fracos e debilitados, por isso quem quizer criar a criança, de modo que fique largo das espaduas e com muita força nos braços não lh'os deve tirar fóra, quero dizer vestidos, senão de trez mezes por diante, assim ficarão sendo mais corpolentos e forçosos, porque se vão criando com todas as forças da sua natureza, cujas forças não lhe abrandam tanto, como se forem criados como acima disse.{40}
A pessoa que tiver as orelhas despegadas da cabeça pela extremidade de baixo, fazendo as pontas rombas, despegadas ou levantando os olhos direitamente, se levantar mais o olho esquerdo que o direito, diremos que nasceu de dia; se as orelhas pela parte debaixo forem ponteagudas sempre pegadas no casco da cabeça ou levantando os olhos direitamente, e se levantar mais o direito que o esquerdo, assim diremos que nasceu de noite.
Se um d'estes signaes mostrar que nasceu de dia, outro que nasceu de noute, o tal diremos que nasceu no crepusculo: chamamos crepusculo de pela manhã tanto que vem rompendo a alva, e dura até que nasce o sol, o crepusculo da noite conta-se desde que se põe o sol, até que se cerra a noute.
O dedo mais curto e grosso da mão chama-se polex, de que se deriva poder, porque sem elle não se póde apertar cousa alguma na mão, que firme fique,{41} n'este costumam os mercadores trazerem os anneis, dando a entender o muito que podem valer com seus reales.
O dedo logo seguido se chama index, que quer dizer amostrador, porque nos serve de mostrarmos aquillo que queremos; n'este costumam os medicos trazer os anneis, dando-nos a entender que elles são index, pelos quaes nossa saude se governa.
O terceiro dedo se chama médio, ou maior, pelo ser, médio por estar no meio de todos, n'estes costumam os soldados trazer os anneis, significando fortaleza e esforço.
O quarto dedo se chama annular ou dedo do coração, porque elle vem a ter uma veia que passa pelo coração. Como o ouro é metal agradavel á vista de todas as pessoas, em geral é costume pôr os anneis n'este dedo para evitar a melancholia e outras paixões que acodem ao coração. Muitas pessoas costumam usar de anneis, mais pela tradição antiga, que pela razão atraz escripta. Quem trouxer n'este dedo um annel com uma pedra de Jacintho fina, que a toque na carne, não é tão sómente bom para a melancholia, pois tambem tem outras propriedades boas.
O quinto dedo se chama minimo ou auricular: minimo, pelo ser, auricular, porque com elle costumamos limpar as orelhas. N'este dedo costumam trazer os anneis as pessoas illustres, dando assim a entender quem são, e não pela valia do ouro.{42}
As quatro compleições de que fomos formados comnosco, assim como uma meza com quatro pés, que sendo todos eguaes e direitos, em plano, está quieta e segura, porém se algum d'elles se levanta ou quebra e é mais comprido, isto só é bastante para que os outros tres com a meza venham ao chão, da mesma maneira a cólera, sangue, fleuma, e melancholia, cujas quatro compleições de que somos compostos estão eguaes conforme á saude no corpo, porém tanto, que alguma d'ellas se altera ou sobrepuja ás outras, causa no corpo a doença conforme sua qualidade. Porque da cólera se causam tabardilhos, frenesis, febres malignas, e outras enfermidades semelhantes.
E do sangue se geram dôres de costas, de cabeça, pontadas e outras semelhantes da fleuma, dôres de tripas, humidades no estomago, dôres de madre, colicas, apostemas, e outras semelhantes. E da melancholia se geram tristezas, humores viscosos, tremulos, gota e outros semelhantes.
E supposto que segundo nossa santa fé aos sonhos não se póde dar credito, por não terem razão nem fundamento algum, são sómente phantasmas que se representam no entendimento, estando uma pessoa dormindo.
Todavia se alguma das quatro compleições se altera do corpo, causa que os taes phantasmas tenham alguma correspondencia, a qualidade da dita compleicão,{43} assim sabendo que seja se póde remediar com defensivos, que á tal compleição alterada applicam.
Pelo que se a pessoa sonhar com o fogo ou arma e outras cousas que incitam a cólera, é signal que a cólera predomina, segundo ella se lhe póde dar remedio.
E se o sonho fôr de pescarias ou embarcações, cousas que pertençam á agua predomina a fleuma.
E se sonhar com prisões, mortes, ou outras cousas que incitem tristezas, perdomina melancholia conforme a ella se lhe applicará remedio.
Pegarão em 20 reis de alteia e depois de a fazer em pó a botarão com uma clara de ovo em uma tigela e com essa mistura untarão as mãos ou outra qualquer parte que quizerem, que depois d'isto feito não se queimarão.
Temos a notar que as compleições atraz declaradas{44} tem aquelles effeitos em quanto distinctas, mas pela mistura d'ellas formam outras quatro compleições, que são as do temperamento, colerica, sanguinea, fleumatica, melancholica. Da do temperamento não trataremos, porque não é possivel havel-a, que onde ha temperamento não ha alteração e não póde haver doença. Assim tambem se ha de notar, que o dormir é parte mui essencial para o cosimento do estomago: porém convém a cada um para sua saude tomar o somno conforme a qualidade da sua compleição. Porque os puramente colericos pela muita quentura que tem, basta-lhes dormir cinco a seis horas: os colericos sanguineos basta-lhes cinco e meia a seis e meia; os puramente sanguineos basta-lhes seis a sete; os fleumaticos bastam-lhe seis e meia a sete; os puramente fleumaticos, bastam-lhe sete a oito, os fleumaticos melancholicos bastam-lhe sete e meia a oito e meia; os puramente melancholicos bastam-lhe oito a nove.
E tudo o que passa d'esta regra é prejudicial á saude, porque tanto se perde por carta de menos, porque assim como não dormir inquieta o corpo, o móe e debilita, assim o dormir muito causa gota e outras enfermidades. Note-se tambem que os colericos, pela muita quentura que teem, lhes é prejudicial á saude soffrer fome; mais ou menos, comer é melhor.{45}
No mez de maio colherão em uma horta uma ambula de orvalho, guarda-se em parte onde lhe não dê o sol, e quando quizermos fazer o que acima fica dito, com um alfinete grosso fura-se um ovo e chupando-o pelo mesmo buraco, o encherão de orvalho, e taparão o dito buraco com um bocadinho de cêra branca, collocando-se o dito ovo á vista de todos em parte onde lhe dê o sol, e assim como o ovo fôr aquecendo se irá levantando e subindo até desapparecer. Quem quizer que este mesmo ovo lhe sirva para mais vezes, ate-o a um cordel na ponta de uma lança, e que seja o cordel tão comprido como ella, ficando a lança no chão. Com uma linha atarão o ovo no cordel, posto ao pé da banca em parte onde lhe dê o sol, e quando aquecer subirá pela lança acima e assim estará no ar, até o tirarem, emquanto estiver quente, porque quando o sol d'aquelle sitio fôr desapparecendo, o ovo vae arrefecendo, e conforme fôr arrefecendo assim vae cahindo para o chão; por isso lhe devem acudir a tempo para se não quebrar.{46}
Secretamente molharemos um lenço em aguardente de cabeça; trazendo-o diante dos circumstantes mandaremos vir uma candeia acesa e tomando o lenço por duas pontas para ficar estendido lhe mandaremos deitar fogo, e como fôr inflammando andaremos com elle ao redor por espaço de um minuto á vista dos circumstantes e logo o sacudiremos e apertaremos entre as mãos para que se apague o lume; tornando-o a estender o mostraremos aos circumstantes tão são como era antes de se lhe botar fogo.
Entre outras cousas que entre nós ha mal feitas são duas, as quaes nos dão notavel prejuizo á saude: a primeira é quererem os homens mostrar que calçam pequeno pé, mandando fazer menor sapato, do que{47} pede o pé, assim continuando vem a ser gotosos; por conseguinte as mulheres que usam posturas perdem os dentes, mais depressa se arusgam e outras muitas desgraças se seguem d'aqui.
Faz-se uma faca de duas metades ligadas uma á outra com uma mola e será feita de tempera branda, que se alargue e aparte o que a pessoa quizer; esta mola mettida pelo braço acima por baixo do casaco ou camisa, apertada a manga junto á faca, e feito isto secretamente sahir aos circumstantes, mostrar-lh'a, parecerá o braço estar passado pelo collo da mão.
Adverte-se que a feitoria da mola d'esta faca é necessario seja de modo que se aperte e alargue.{48}
Deve haver tinteiro separado para cada tinta, para que uma não corrompa a outra.
Para fazer tinta vermelha, pizam-se flores de papoula, espremidas, o sumo que deitarem, coado, posto um pouco ao sol, para que engrosse e não corra tanto, se faz tinta vermelha bastantemente.
Para fazer tinta verde, faz-se a mesma operação com os concelleiros que nascem pelas paredes, e da mesma maneira ficará tinta verde.
Para a tinta roxa, do mesmo modo se fará da flor do lyrio.
Para tinta amarella, egualmente se faz com flôr do pampiro.
E assim para qualquer outra tinta que quizermos fazer, buscaremos a herva da côr da tinta que quizermos fazer, e do mesmo modo que fica dito se fará.
E para fazer que as letras que estão em papel que mal se enxerguem por estarem gastas pelo tempo se possam lêr, se molhará um panno de baeta em ourina fresca, levemente se esfregam as letras com elle, que depois se poderão lêr.{49}
Para tirar nodoas de azeite amassarão um bocado de barro vermelho, que não fique muito espesso, e da parte do avêsso que quizerem tirar as nodoas, cubra-se toda a nodoa com este barro, e da parte direita se ponha sobre a nodoa uma folha de papel alinhavada, de modo que se chegue o papel ao panno, e posto a enxugar até o barro estar bem secco, logo se esfrega, e tirando-se-lhe o papel ficará a nodoa fóra. Este remedio é bom principalmente para panno de côr; é bom lavar em agua de pescada.
E tambem para tirar a nodoa do panno se cobrirá a nodoa com sabão e por cima do sabão botar um pouco de sal, pondo ao sol por espaço de um quarto de hora e lavando a nodoa, logo se tirará.
Para tirar pingos de cêra, estando em sêda, tosta-se uma fatia de pão trigo, e assim quente se põe em cima da cera que a attrahirá a si.
Se fôr em panno de côr, bota-se um testinho no lume, e estando bem quente se tira, embrulha-se em um papel, esfrega-se com elle no lugar onde está a cêra, e assim logo sahirá e o panno ficará limpo.{50}
Se quizerem fazer uma canada em pouco tempo, de agua do mar para ficar dôce, tome-se um pote novo, metta-se-lhe dentro uma pedra que peze quatro ou cinco arrateis, tapa-se-lhe a bocca com uma rolha de cortiça, bem justa, atando o pote por um cordel, se botará o dito pote no mar, mansamente, para que a pedra não quebre, e d'ahi a tres ou quatro horas o tirarão, tirando a rolha ao pote, acharão dentro d'elle uma canada de agua dôce como a da fonte; a razão por que a pedra se mette é para que o pote vá ao fundo do mar, para a agua tomar a virtude que se pretende.
Como no segredo adiante havemos de tratar das qualidades da agua dôce, necessariamente é tratarmos primeiro da terra, por cuja razão se faz dôce, e do ar a que ella sobe.
Os mathematicos que tenham observado cometas, os quaes se fazem entre a região do fogo e do ar, acham ter este corpo aereo, trinta e quatro leguas, dous terços, estes se repartem em tres regiões; a primeira{51} que é esta que gozamos temperada por razão dos raios do sol que dão na terra, reverberando para cima aquentam, temperam até duas leguas e meia para cima, esta região é mais palpavel, porque n'ella andam as aves, e n'ella respiram todos os animaes terrestres, racionaes e irracionaes. A segunda região é summamente fria mais pura que a primeira, em tanto que as aves subindo a ella não se poderão ter nem respirar no principio d'esta região, estão em deposito as aguas que chovem, que sobem do mar vapores da terra, aguas sobem, até ao meio da dita região, congelam-se em neve, e se mais acima forem, congelam-se em pedra, assim como esta primeira e segunda região occupam para o alto oito leguas e meia, as mais que faltam para trinta e quatro leguas, dous terços occupa a terceira região, a qual pela parte proxima a segunda é fria, e pela parte de cima por estar á região do fogo é calidosissima; n'esta se fazem todos os trovões, raios e cometas. Assim tambem a terra se parte em tres regiões, para que não pareça desordem brotaremos o gosto d'ella, proval-o-hemos por regras grammaticaes, as quaes são pela circumferencia ou superficie de um globo, saber-se a grossura d'elle, quero dizer seu diametro, ou peso diametro de uma cousa, vir em conhecimento da superficie d'ella guardando a regra seguinte.
Que sabido o diametro de qualquer circulo, este multiplicando partes, um setimo; o que tudo sommado terá de circumferencia a superficie, por conseguinte sabendo a circumferencia, esta, partida por tres um setimo, o que vier á partição fará o diametro, assim, vinte e dous palmos de diametro, nos dão sete palmos de circumferencia, pois temos sabido assim pelas dimensões geometricas, como das experiencias de homens{52} do mar ter a terra em redondeza, seis mil e trezentas leguas; iremos á regra de tres, dizendo se vinte e duas leguas de circumferencia nos dão sete de diametro, seis mil e trezentas de circumferencia da terra quantas nos darão de diametro, virá a partição de duas mil e quatro leguas e meia, assim diremos ter a terra de grosso, duas mil quatro leguas e meia que partidas pelo meio vem duas mil duas leguas e um quarto de legua, tanto ha da superficie ao centro da terra, que é o meio de toda a grossura.
Estas mil duas leguas e um quarto se repartem em tres regiões, a primeira das quaes a da superficie para o centro duas leguas e um quarto, ou posto que a terra em si seja summamente fria, secca e pesada, esta primeira região é temperada pela razão que temos dado da impressão que fazem os raios do sol n'ella, n'esta região se criam as exhalações que com a força do sol chamadas para cima se acertam de cahir por terra, pela resistencia que lhe põem ao cair, causa para ella tremer que é haver em algumas ilhas e outras partes tanta calidade na terra que no verão com a força do sol abrem grandes concavidades, as quaes vindo o inverno, pela razão que acima dissemos, se tornam a fechar.
A segunda região que é de duas leguas e um quarto, seis leguas para baixo n'esta região, a superficie d'ella é o principio da creação do ouro e mais metaes mineraes, d'ahi vem botando para cima por veias canos a modo de arvores, assim a raiz do ouro principia n'elle e na segunda região.
A terceira região é de oito leguas e um quarto, que occupam a primeira e segunda região para baixo até ao centro, esta ultima região, é summamente pesada, fria e secca; é incapaz de criar cousa alguma,{53} no intimo interior da qual está o inferno de que Deus nos livre.
Quando alguma pessoa do campo se sente com qualquer mal que seja, cose um bocado de carqueija e bebem aquella agua, e deitados na cama se abafam para suar, e com isto lhe faz Deus algumas vezes de lhe abrandar o mal.
O segundo é que para maleitas dizem ao enfermo que dê a ourina para mostrar ao medico, com ella dão uma volta fingindo que vão buscar um xarope e em lugar d'elle lhe dão a beber a mesma ourina e com este remedio continuam oito dias, e é com este mesmo remedio que se lhe vão embora as maleitas.
Ha-de vir a terceira pessoa, a quem tenhamos dado conta d'isto, logo faremos pôr a mesa e diremos que nos tapem os olhos, e nos sentaremos, e defronte{54} de nós a pessoa em que nos fiamos, e logo pediremos cartas, perguntando que é o que querem que d'alli se tire, se a primeira de quatro ou o que quizerem, logo indo tirando carta por carta, e cheirando cada uma d'ellas pelas costas de modo que o que ha-de avisar veja que cartas são, assim tirando-as iremos pondo uma por uma na meza em tanto que nos venha alguma das que nos tem pedido a pessoa a que temos communicado o segredo, porá o pé sobre o nosso, assim poremos aquella carta de parte e iremos continuando até tirar todas as pedidas, da mesma sorte que acima fica dito e quem estiver fazendo este segredo acautelar-se-ha para os assistentes não darem fé do que se está fazendo por baixo da meza.
O jacintho é de muitas côres, porém o verde ou roxo mui brilhante é o melhor, o qual feito em pó e tomado pela bocca, é cordial, e serve contra as febres malignas: defende a quem o traz dos raios e temporaes.
Trazendo o jacintho comsigo, que toque ao corpo, conforta o coração, e aviva o engenho.
Defende o jacintho, a quem o trouxer comsigo, de venenos e ares corruptos.
Tem virtude o jacintho de refrear a loucura, e evitar a melancolia; e não soffre representações de fantasmas, nem visões.{55}
Meia legua de Toledo junto a um mosteiro de Bernardos, ha uma fonte pegada á ribeira do rio Tejo que chamam dos jacinthos, porque ali ha tantos, que sae a agua e corre por cima d'elles.
Diz o experimentador Alberto, e ainda outros, que na cabeça da andorinha se acham duas pedrinhas mui pequenas, e que uma é branca, e outra vermelha, cujas virtudes são as seguintes.
Dizem que quem trouxer comsigo a pedra branca da andorinha, não será molestado de sêde, e que se a tiver na bocca, sempre a terá fresca.
Dizem mais, que se alguem tiver fluxo de sangue e trouxer a mesma pedrinha branca ao pescoço, logo se lhe estancará o sangue.
Tambem dizem que tem virtude para ajudar as mulheres no parto, como a pedra da aguia.
Dizem mais, que lançada a mesma pedrinha branca em uma vasilha de agua por espaço de uma noite, e bebida a agua, provoca a cursos, e tira o mal da gotta, e ainda a febre se a tiver.
Tambem dizem que quem trouxer comsigo a pedra vermelha da andorinha se livrará de muitas doenças.{56}
A pelle da cobra queimada, e posta em cima de alguma ferida, a deixa sã; e se houver bico, ou ferro mettido dentro na carne costuma attrahil-o a si, até o tirar fóra.
Notem uma e outra vez, advirtam, que quem trouxer comsigo os pós d'esta pelle de cobra será preservado de lepra, e de qualquer peçonha. E saibam, que os ditos pós tem grandes virtudes, e muitas propriedades: porém, ha de se queimar a dita pelle, estando o sol no signo de Aries, que é de 12 de março até 26 de abril.
Diz Aristoteles, que para fazer a agua do mar doce que se possa beber, façam uma vasilha de cêra bem tapada, e a mettam no mar, que fique coberta de agua, e toda a que fôr entrando pelos poros da cera perderá o sal e ficará doce. O mesmo succederá, se metterem no mar uma vasilha nova de barro com tanto que tenha a bocca bem tapada.{57}
Escreve Macencio, que o summo da erva chamada sagunta, bebido em jejum reprime os estimulos da carne, e as suas folhas postas sobre os genitaes, diz, que tem virtude de applacar os incentivos da luxuria.
Avicena escreve, que a arruda comida, mitiga os ardores da carne no homem; e na mulher pelo contrario, porque os aviva com excesso.
O mestre João diz, que o orjavão tem mui grande virtude, e efficacia para reprimir a luxuria, porque applicado aos lombos mitiga, e applaca grandemente os estimulos da carne. Diz mais o mesmo author, que o sumo do orjavão bebido causa impotencia, a quem o toma, por espaço de sete dias. Escreve Dioscorides, que a fructa, que produz o cedro, pizada, ou o sumo de suas folhas posto nos genitaes, desterra a appetencia de actos venereos. Michael Escoto diz com muito fundamento que todas as cousas agras, frias e azedas se accomodam bem com a castidade, conservando-a: e pelo contrario as cousas doces, quentes e odoriferas, a destroem, e estragam de todo. Porém fallando espiritual e catholicamente, o que mais conserva, e defende a castidade é o jejum, a disciplina e a oração frequente e com muita devoção.{58}
Tomarão cóla feita de retalhos de couro, e desfeita em agua ao fogo, que fique bem clara e rala, lhe misturem azeite, e assim quente, molharão e esfregarão as taboas e pés do leito, de sorte que toda a madeira fique lavada com este cosimento, e resultarão dois effeitos muito bons. O primeiro será que o leito todo parecerá de nogueira. E o segundo, que não se crearão n'elle persevejos, como tenho bem experimentado.
Ponham uma panella de agoa ao lume, e lançar-lhe-hão dois vintens de solimão, e deixando-a ferver bem, borrifarão o aposento depois de bem varrido, e tenham por certo que morrerão, e se não crearão outras. Mas isto se ha de fazer duas vezes na semana.{59}
Tomem um pouco de mel e farinha, mechida com uma pouca de agoa clara, lhe lancem arsenico ou rosalgar, e ponham esta mistura em caqueiros, aonde cheguem as moscas, e vêr-se-ha quantas vão caindo, porque em provando ficam mortas. O mesmo effeito faz o ouro e pimenta moida, e desfeito em agoa e posto em algumas vasilhas pela casa; mas vigiem que não chegue cão ou galinha a provar, porque ficarão mortos.
Queimarão cominhos rusticos no aposento aonde houver mosquitos, e logo cairão mortos ou se irão; tambem quem molhar o rosto com agoa, na qual estivessem cominhos rusticos de infusão, não lhe hão de chegar os mosquitos ao rosto. Em outro logar se dirão outros segredos mais ácerca d'isto; mui notaveis e difficultosos de crer, e por tanto cito ali os auctores que o dizem.{60}
Façam por apanhar um rato vivo, já grande ou mediano, e façam uma de duas cousas. Ou lhe esfolem a cabeça e lhe ponham na abertura da pelle um pouco de sal moido e deixem-no vivo, que elle com o ardor e raiva affugentará os outros: ou façam outra cousa, se lhes parecer mais facil, e é atar ao pescoço do rato um cascavel pequeno, que tenha o tenido mui vivo, com o que fará fugir os outros; e assim ficarão livres d'estes inimigos caseiros, poupando gastos e molestias. Outro segredo melhor e mais facil. Tomarão gesso novo, e passado por peneira o misturarão com queijo ralado subtilmente, e misturado tudo o ponham em diversas partes da casa, e será cousa entretida vêr os ratos que comerem da iguaria andarem inchados por casa, e se tiverem agua que beber, morrerão mais depressa; porque o gesso tanto que chega á agua ou cousa humida, logo se torna em massa, e é segredo sem perigo.
Tomarão giesta da mais pequena e de folhas mais miudas; (porque ha duas castas d'ellas) queimal-a-hão,{61} e da cinza farão decoada; e pondo esta a cozer, se converterá em sal, o qual lançado nas candêas, conservará e fará durar o azeite mais do terço. A pedra hume de rosa e o sal commum, que serve para o comer, tem a mesma propriedade, porém não tanto como o sal da giesta.
Tomarão uma canada de azeite e pôr-se-ha ao fogo, e logo lançarão quatro onças de pêz grego e um vintem de pedra hume de rosa; tudo bem moido primeiro, e mechendo-o muito bem, até que esteja de todo misturado, logo se poderão servir d'elle nas candêas, poder-se-ha fazer mais ou menos seguindo a mesma ordem com proporção dos materiaes.
No tempo da vindima tomarão um pé de bagaço no patamal do lagar, depois de espremido e estendido lhe lançarão cem potes de agua e quatro arrateis de{62} perrexil verde, dois de flor de sabugo verde, e um bom cantaro de vinagre do melhor e mais forte, e deixal-o estar vinte ou trinta dias, e no fim se esprema tudo, e recolherão vinagre mui forte e odorifero; e proporcionando os materiaes, podem fazer mais ou menos.
Tomarão uma arroba de cebo de bode e uma duzia de ovos de adem, só as gemas, meias cozidas, desfeitas e bem batidas, se lancem no cebo com outra arroba de cera, e tudo posto ao fogo se mecherá, até que fique derretido e bem misturado; e ficará tudo convertido em cera mui amarella, para se fazer d'ella toda a obra que quizerem.
Diz Creponte, que para saber se o vinho tem agua, lhe lançarão umas talhadas de pera brava aparada, e se nadarem em cima, signal que está o vinho puro; mas se forem ao fundo, se conhecerá que o vinho está aguado.{63} Outra advertencia. Tomarão um junco ou uma palha de avêa bem lisa, e untada com cebo a metterão na vasilha do vinho; e se este tiver agua, sairão pegadas umas pingas mui subtis de agua. Outra. Encherão de vinho uma panella nova, e deixando-a estar dois dias, se sumirá toda a agua, se a tiver. Outra. Tomarão uma pedrinha de cal virgem, e molhando-a com elle, vinho, se tiver agua logo se desfará a cal; e se estiver puro, se apertará mais. Outra. Lançarão um pouco de vinho em azeite que esteja bem quente, e se tiver agua, espirrará e saltará, o que não hade acontecer se fôr puro.
Diz Filonio, que para se não embebedar são bons os bofes de ovelhas assados, e comidos antes de jantar, ou que, antes que bebam vinho, comam verças com vinagre, e d'este modo lhe não fará mal o vinho, posto que bebam mais do ordinario. Porém o melhor remedio para se não embebedar é o que eu uso ha sessenta e tres annos que hoje faço de idade, e nunca bebi vinho, e acho tanto regalo na agua, que é para mim a melhor iguaria que vejo na mais explendida meza: e oxalá se praticára isto que digo, que o vinho se havia de vender na botica e usar por medicina. Se alguem reconhecer o descredito, que causa o vicio de destemperança no beber, e quizer livrar-se de se embebedar{64} e aborrecel-o de todo, note o que escreve Plinio, e é que mettam duas enguias vivas e grossas dentro em um cantaro de vinho, e que depois de estarem affogadas, dêem este vinho aos que se costumam embebedar, e virão a aborrecer o vinho de todo; porque causa um raro tedio e aversão. Para o mesmo serve a bretonica feita em pó e bebida.
Escreve Catão e Plinio, que para tirar a agua do vinho, se fará uma vasilha de páo de hera, lançando o vinho n'ella, se tiver agua, todo o vinho se irá coando e ficará só a agua na mesma vasilha: e se não tiver agua, ficará a vasilha completamente vazia.
Ponham uma redoma ou garrafa cheia de agua ou vinho dentro em um cubosinho ou balde de madeira ou de cobre que é melhor, e lançarão sobre a garrafa{65} ou redoma, e por baixo quantidade de neve bem desfeita, e por cima da neve se deitarão bastante sal moido e pouco a pouco irão virando a garrafa, até que de todo esteja a neve desfeita, e escorrerão a agua da neve e lançar-lhe-hão outra tanta neve desfeita com sal moido; e assim se deixará estar até que de todo se desfaça, sem mover a garrafa: e farão o mesmo terceira vez, e tirará a agua congelada ou o vinho que estiver na garrafa. E isto se póde fazer na força do verão, e parecerá cousa impossivel, sendo tão facil; e pondo a garrafa com a bocca destapada para baixo, é certo que se não entornará. Como experimentou o duque de Gandia, D. Francisco de Borja, que mandou uma cheia de agua congelada no verão, ao patriarcha D. João de Ribeira, arcebispo de Valença, o qual em retorno de tão curioso segredo, lhe mandou outra garrafa cheia de vinho congelado, que foi maior maravilha.
Defumarão o cravo e a rosa em enxofre, e logo se tornarão brancos de encarnados; e podem fazer todo o craveiro branco, de vermelho, como eu fiz a experiencia em uma occasião, tornando brancos mais de vinte cravos encarnados, com admiração do dono do craveiro, por não saber a causa.{66}
Recolherão uma pequena porção de azougue em um canudinho de penna e muito bem tapado, o metterão dentro em um pedaço de pão quente, e ver-se-ha, tanto que o azougue aquecer, que começará o pão a dar saltos pela meza. O mesmo verão que fará uma avelã, se a encheram de azougue, e bem tapada com um torno que atoche bem, lançada em agua quente, porque tanto que o azougue aquecer, fará saltar a avelã.
Se quizerem fazer subir a agua por uma redoma vasia ou garrafa, aquentar-se-ha muito bem e por-se-ha com a bocca para baixo na agua, e verão subir a agua pela redoma acima em quanto esta estiver quente, e para que o esteja, irão queimando papel sobre o fundo da mesma vasilha, e não ha de parar até que encha de todo, e é provado.{67}
Se quizeres que um ovo ande pela casa, tomarão um ovo vasio, de sorte que fique a casca quasi inteira, e pelo buraco por onde o vasarem, lhe mettam uma sanguexuga viva, e tapar-se-ha o buraco com cera, e tomarão uma tigella de agua e a irão movendo junto ao ovo, e como a sanguexuga do instincto natural conhece e sente o rumor da agua, vae seguindo aquelle rumor, e o ovo rebolando, a quem não sabe o segredo fica confuso, e é provado, e nota que a sanguexuga ha de ser de paul e de umas que ha mui negras e grossas.
Atarão uma linha ao redor de um ovo, e pondo-o a assar no meio do borralho que esteja bem coberto do lume mais vivo, e ver-se-ha que o ovo se assa e não se queima a linha nem se quebra, e é provado.{68}
Se quizerem frigir peixe ou ovos em papel em logar de certã, tomem um pedaço de papel feito a modo de barrete de quatro cantos, e deitar-lhe-hão azeite, e pondo-o sobre uma vela ou candeia accésa, irá fervendo o azeite sem que o papel se queime e frigindo o peixe ou ovos, é provado.
Pintarão na parede duas caras grandes, e no meio das boccas lhe farão duas covinhas; em uma ponham salitre moido bem enxuto, e na outra enxofre em pó; e se chegarem o lume da vela á boca ou covinha do salitre, se ha de apagar, e no mesmo instante chegarão o pavio da vela que fica fumegando, á outra bocca do enxofre, se accenderá e é provado; mas hão de tocar o pavio no salitre e no enxofre.{69}
Tomarão sumo de aipo e misturem-no com aguardente refinada, e deitarão de molho umas migalhas de pão n'esta agua misturada com sumo do aipo, e darão de comer ao frangão em jejum d'estas migalhas, e d'ali a pouco cairá o mesmo frangão no chão amortecido, e no mesmo instante tirar-lhe toda a penna e untal-o com mel branco, misturado com açafrão, de sorte que fique bem córado, e pondo o frangão em um prato, na meza, parecerá assado. E quando o quizerem fazer tornar em si e saltar fóra da meza, molhar-lhe-hão o bico com um pouco de vinagre forte, de sorte que lhe chegue á garganta, e de repente se levantará e fugirá da meza, e é provado.
Escrevem S. Basilio e S. Ambrosio, de uma ave que se chama Alcião, da fórma do maçarico, a qual cria junto ao mar na area e no inverno; a qual em 14 dias se tira e cria, até poderem voar. E dizem estes Santos Doutores, que em todos estes 14 dias, que esta{70} ave gasta em criar seus filhos, nunca o mar se altera, pouco nem muito, antes se conserva mui sereno e socegado. Esta maravilha e prodigio tem bem observado os marinheiros, e chamam a estes dias alcionicos; e estão mui certos que em todos estes 14 dias não ha tormenta no mar.
Baptista Aranda, escreve em um livro de seus conceitos, que quem trouxer comsigo um olho de cão negro, não lhe ladrarão os outros cães; por que diz que o dito olho lança de si tão grande fartum e cheiro, que os cães o sentem logo pelo grande faro que teem; e não só se não atrevem a ladrar, mas ainda nem a bolir comsigo.
Se quizerem augmentar a memoria, tomarão a banha do urso e cera branca, e derreterão a cera com a banha, sendo esta dois tantos de cera; tomarão a herva que se chama Valeriana, e outra que se chama Eufragia, frescas ou seccas, e pizadas muito bem, as{71} misturem com a banha e cera derretida, e tornando ao fogo, deixarão ferver até que fique grosso, mechendo com um páo, e com este unguento untarão o toutiço e testa, de quando em quando, e se augmentará notavelmente a memoria, e é provado.
Para saber, de dois casados que não tem filhos, em qual dos dois está o defeito natural, tomem a ourina de ambos, marido e mulher, cada uma em sua vasilha, e em cada qual d'ellas lançarão uns poucos de farellos de trigo, e n'aquella ourina em que se crearem bichos, está o defeito natural de não poder procrear ou conceber.
Tomarão a flor do sabugueiro, e seccando-a ao sol, moida, lançarão os pós em vinho branco e os tomarão em jejum, e causará boa voz e clara.
O sumo do aipo e orjavão, bebidos, aclara muito{72} a voz; mas advirtam, que o sumo do orjavão resfria os genitaes.
Tomem uma pasta de chumbo delgada, e pondo-a no fundo da panella, não se cozerá a carne por mais fogo que tenha em todo o dia, e é provado.
Tomem duas duzias de folhas de hera, outras tantas de sabugo e outros tantos grãos de pimenta, e ponham tudo a ferver em vinho bem tinto e velho com um pouco de sal, e depois de ferver bem, tirado do fogo, tomarão bochechos de vinho quente, fazendo-se tres ou quatro vezes, se tirará a dor sem falta.{73}
Tomarão tres ou quatro pimentos ou malaguetas, e as porão em um brazeiro, cobertas de cinza, de sorte que as brazas não cheguem aos pimentos, porém que haja muitas brazas em cima e ao redor da cinza, e tanto que forem aquecendo os pimentos, pouco a pouco sairá um fumo tão subtil e delgado, que se não sente, até causar o sobredito effeito, com tanto que a casa esteja bem fechada, e é provado.
Raparão mui bem com uma navalha os cabellos que quizerem, e untarão aquelle logar com gomma-arabia, desfeita com o sumo de herva molerinha ou sangue de morcego, que é melhor, e não lhe crescerão mais. O mesmo effeito fará o esterco de gato desfeito com vinagre.{74}
Mandarão fazer um pente de chumbo mui basto, com o qual pentearão a barba e cabellos a miudo e sempre se conservarão negros.
Tomarão folhas de nogueira e cascas de romã, distillado tudo por lambique de vidro, e com esta agua lavarão mui bem, por quinze dias, a barba e cabellos, e conservar-se-hão loiros.
Tomem folhas de figueira negra bem seccas, e feitas em pó as misturarão com azeite de macella gallega,{75} e com isto untarão os cabellos e barba muitas vezes, e se farão negros.
Cortarão as unhas e cabellos em minguante da lua, com tanto que se ache a lua no signo de Cancer, Pisces ou Escorpião, e crescerão mui pouco.
Cortarão as unhas e cabello em crescence de lua no signo de Tauro, Virgo ou Libra, e verão como tornam a crescer depressa.{76}
Para que as sementeiras saiam boas, e a colheita melhor, observará o lavrador, quando semear, que seja em lua nova, e que se ache no Signo de Tauro, Cancer, Virgo, Libra ou Capricornio, e achará uma grande e rara differença na seara e na colheita.
Tomarão um páo de louro secco, e outro de amoreira, ou de hera, que é melhor, e roçando rijamente um contra outro, aquecerão tanto que sé accenderá fogo como polvora, ou mecha. D'este segredo usavam as espias no campo de Cesar, por não serem sentidas dos inimigos.
Notem este segredo: as mulheres para se lhes seccar{77} o leite dos peitos, por mais cheios e duros que os tenham, tomarão as folhas do sabugueiro e as ponham estendidas e enxutas sobre os peitos, e logo se irão abrandando e seccando; e é provado muitas vezes. Outro segredo mui importante para o mesmo, e é que tomem uma herva que se chama melcoraje, e pondo-a ao fogo em uma tigella com um pouco de azeite rosado, assim que estiver quente a ponham aos peitos, cobrindo-os bem com pannos em cima, e aos tres dias não sentirão leite nem molestia alguma; e tambem é provado e experimentado muitas vezes.
Escreve Missaldo, se a poupa (que é uma ave pintada como um periquito na cabeça) cantar antes que as vinhas rebentem, é signal mui certo que haverá abundancia de vinho n'aquelle anno.{78}
Diz Aristoteles, livro de Animalibus, que se pozerem uns pedacinhos de cera benta nas pontas do novilho, ha de seguir a quem lh'os pozer.
Escreve Santo Alberto Magno, que untem a testa da besta com sumo de cebolla alvarrã, e não temam que se perca se a não furtarem.
Untar-lhe-hão a lingua toda com cebo, e antes se deixará estalar que comer cousa alguma, se lhe não tirarem o cebo com sal e vinagre, lavando-lhe muito bem a lingua.{79}
Escreve Santo Alberto Magno, que façam uma cordinha de tripa de lobo, e pondo-a atravessada na rua, coberta de arêa ou pó, verão que não passará por ella cavallo ou gado, ainda que os matem ás pancadas; e dizem que fez a experiencia S. Thomaz de Aquino, discipulo de Santo Alberto Magno.
Escreve Plinio, que tomem os dentes maiores dos lobos e que os atem ao pescoço das cavalgaduras, e não se molestarão nem cançarão muito no caminho.